29 de julho de 2012

Entardecer

Pintar-te levaria uma eternidade,
Um século de música
Só nos telhados encarnados.
Uma geração em cada tom de azul
Que mais que um rio,
Que um céu,
São pequenos mundos
Com outros pequenos quadros.

As horas passam
Enquanto tento replicar
O som dos pássaros,
Que se seduzem entre si,
Numa primavera que
É só tua.

A eles junta-se um bairro,
Ser vivo,
Desperto, acordado,
Com sentido de origem
E de destino,
Com a sua voz
Que se confunde,
Com a de povos distantes.

Tento tudo isto,
Com o pincel que são os meus olhos,
Numa tela de memória,
Que treme por temer,
Perder um pormenor que seja.

O amarelo
Em constante mudança,
Mistura-me, trabalha-me,
Molda-me numa evolução de estados,
Sentimentos partilhados
E vozes aquecidas.

Abana-me o cheiro das oliveiras,
Da maresia,
De um vento caloroso, seco,
Que traz em si um perfume das arábias.
Essências que se entrelaçam na história,
De uma casa que já é antiga.

Reconheço-lhe o passado
E pinto-lhe o futuro,
Como vidente mas sonhador,
Com um desejo partilhado
De que se concretizem
Todos os sonhos,
Neste quadro.
Os meus,
Os de quem vive, de quem visita,
De quem é...
Porque tu és.

Conformo-me na minha inércia,
No reconhecer da minha incapacidade.
Limito-me aos segundos que me fogem,
Tentado espremê-los
No que espero seja,
Um golpe de génio
Para transformar o efémero.
Um momento em mil,
Um dia numa vida.

Sem comentários: